segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Diálogo Teórico sobre os Educadores

Célestin Freinet (1896-1966) 2 mai 2 nem sempre são 4 * No meu tempo, 2 mais 2 eram 4; decorávamos a lista das províncias; recitávamos a tabuada para frente e para trás; confrontávamos as estratégias das guerras de Luís XIV e de Napoleão... Nada de sentimentos, diziam-nos. A ciência é impassível e impessoal. Estudem-na e serão homens. Sim, homens que foram matar-se uns aos outros como animais, no Marne ou na linha Maginot, e que procuram novas Hiroshimas. Ocorre, porém, que 2 mais 2 já não são 4; as províncias já não tem a mesma função; a máquina calcula melhor e mais depressa do que o homem, para a frente, para trás e para o lado; as guerras modernas eclipsaram os heróis de punhos de renda: “Senhores ingleses, atirem primeiro!” Hoje, o rádio alimenta-se não de problemas matemáticos, mas de canções, de coros e de música, e os homens e as mulheres vão ao cinema para rir e chorar, como para provar a si mesmos que, apesar da cadeia mecânica da escola, do escritório e da fábrica, se mantem homens e mulheres não pelo que conhecem, mas porque vivem na carne, no espírito e no sangue. Tem razão, sem dúvida: a ciência constrói robôs que, com 2 mais 2, calculam a uma velocidade vertiginosa e que são capazes de baixar as alavancas do comando e de levar a morte para além das ondas. Não realizou ainda, infelizmente, o homem que pensa, não com fios e engrenagens, mas com seu ser sensível e capaz de marcar, com o próprio cunho, o destino dos robôs. É esse ser sensível que temos de educar, não somente para criar e animar robôs, mas também para dominá-los e os sujeitar, a fim de exaltar os elementos de consciência e de humanidade que são grandeza e a razão de ser do homem. Texto retirado do livro Pedagogia do bom senso (pp.90 e 91.7.ed.São Paulo:Martins Fontes 2004), tradução do original Les dits de Mathieu (1959). Para Freinet, a eficácia da busca do conhecimento deve ser espontânea, motivada pela necessidade interior daquele que procura e pesquisa por conta própria, o que, evidentemente, incluirá erros e acertos. É tateando, experimentando, retomando o caminho para retificar as tentativas infrutíferas, que a criança e o adulto aprendem realmente.

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